A modificação corporal no mundo existe desde que o ser
humano existe. Trata-se de uma história múltipla, diversa e complexa, e
conseguir desenvolver uma genealogia das práticas é uma tarefa que demanda
tempo e dedicação extremos.
Em seu primeiro livro, Thiago Soares (fundador do site Frrrk Guys e do grupo de estudos GESMC) traça um perfil da
modificação no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, período em que muitas
técnicas floresceram por todo o mundo, algumas um tanto quanto controversas,
como os implantes, outras, já estabelecidas, encontraram mais adeptos e
profissionais dispostos a experimentar com as possibilidades, como no caso da
escarificação e do branding. Passando
para os anos 2000, Thiago também apresenta o caso da pigmentação do globo
ocular, a evolução das peças para body piercing
e sua análise acaba não se restringindo apenas ao período delimitado pelo
título da obra.
Tratando de diferentes perspectivas em diferentes contextos
históricos, o autor expõe como a visão que temos do corpo foi sendo moldada por
meio de discursos e ideologias por vezes impostas à sociedade. O resgate do
primitivismo, em meados do século XX, foi um momento de mudança de paradigmas,
levando a novas percepções, algumas bastante desafiadoras aos olhos da
sociedade média.
A importância de um livro como esse, escrito de forma tão
clara e objetiva – até didática, eu diria –, não está somente no reconhecimento
de uma comunidade brasileira rica e ativa que se dedica à body mod com seriedade e afinco, mas também à abertura, para o
público em geral, de um âmbito quase desconhecido envolvendo as modificações
chamadas mais “extremas”. Até hoje, aqueles que optam por intervenções no
próprio corpo são vistos como abjetos, como “loucos”, “inconsequentes”...
caracterizados na maioria das vezes negativamente, são indivíduos julgados
simplesmente por exercerem sua individualidade, seu direito de escolha. Por
isso a necessidade de se discutir o tema é grande e, convenhamos, a publicação
de uma obra como essa valida intelectual e academicamente a modificação
corporal brasileira, principalmente sendo escrito por uma pessoa que
experiencia no próprio corpo seu objeto de pesquisa – um passo que representa
uma afirmação crucial, quem sabe, uma infiltração num meio acadêmico nem sempre
receptivo a esse tema.
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[Nota (para a
editora):] Por ossos do ofício, venho notando que muitos livros são publicados
hoje em dia sem um trabalho cuidadoso de revisão (pergunto-me se há alguma
revisão, na verdade). Várias vezes, ao ler um livro, começo a notar erros
gramaticais que, apesar de corriqueiros quando escrevemos (afinal, escrevemos
sem pensar em revisão nem em edição, trabalho que só será feito depois e que
normalmente é realizado uma segunda vez pela editora), pode ser facilmente
notado por um revisor, como trocar um ponto final por uma vírgula ou adicionar
um verbo na oração – não é essa a função?!
Até os maiores professores precisam de alguém para revisar seus
textos, por uma simples questão de distanciamento, e não consigo entender o
motivo de algumas editoras estarem aparentemente dispensando a revisão.
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