Na “Parada Gay” que aconteceu em 7 de junho de 2015 uma
performance chamou a atenção; Viviany Beleboni, trans, apareceu crucificada em
cima de um dos trios. A imagem forte de uma crucificação simboliza a violência,
esta bastante física, a que muitas pessoas são submetidas por sua orientação
sexual ou por sua expressão de gênero.
A analogia com Jesus Cristo é inteligente e uma importante
chamada à reflexão, pois Cristo foi o grande defensor das minorias em seu tempo
e foi condenado à morte justamente por ser uma pessoa transgressora e
questionadora do status quo. A morte
por crucificação foi uma punição comum na Roma Antiga, reservada aos que
ofendiam a lei.
Ora, não podemos tomar Jesus como nosso representante, como
nosso mártir, uma vez que ele é, por si só, um dos maiores mártires da
humanidade? Evangélicos não detêm os direitos à imagem de Cristo, não detêm nem
mesmo o direito de interpretação única da Bíblia. Muito pelo contrário, que eu
saiba, eles são contra a adoração de ídolos e alguns deles fazem questão de
chutar e quebrar imagens católicas apostólicas. Estavam eles preocupados com a
ofensa que fizeram a uma outra religião? Provavelmente, não.
Dizer que a apropriação da imagem da pessoa crucificada é
uma blasfêmia é condenar os próprios atos, uma vez que eles usam e abusam de
tal imagem em suas propagandas. Não nos esqueçamos também que a mesma imagem já
foi usada inúmeras vezes pela imprensa com objetivos supérfluos e não gerou
tanta polêmica.
A diferença é que a igreja evangélica claramente tem no
movimento LGBT o desafio às crenças, o desafio a ensinamentos pregados por um
pastor – muitos deles nem mesmo estão na Bíblia, ou são distorcidos da forma
como aparecem, descontextualizados para servirem ao objetivo de dominação dos
fiéis.
Aos membros da comunidade LGBT que consideram a imagem de
Viviany crucificada um desrespeito, sobressai a hipocrisia de tal argumento:
para sermos respeitados teríamos de vestir uma máscara de respeitabilidade que
nos permitisse viver no mundo como se fôssemos “iguais”. Mas, para a sociedade,
não somos “iguais”. Não é justo que tenhamos de acolher o desrespeito na forma
de uma adaptação normativa de comportamento, que está sempre nos impondo o que
é certo e o que é errado, em vez de nos expressarmos de forma mais aberta.
Em tempo, imagens chocantes e ofensivas de verdade são as
publicadas no Homofobia Mata. Os crimes denunciados ali, sim, são blasfêmias!
P.S.: Aos evangélicos que dizem praticamente deter o copyright da palavra divina, deixo aqui um trecho da Bíblia, Mateus 7:22-23
---------------P.S.: Aos evangélicos que dizem praticamente deter o copyright da palavra divina, deixo aqui um trecho da Bíblia, Mateus 7:22-23
22 Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?'23 Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!
Leituras sugeridas:
- "Evangélicos quebram e urinam em imagem de santa; pastor nega participação, mas apoia fiéis"
- "Gays são crucificados e mortos por Estado Islâmico"
- "A mulher trans: gêneros e violências"
- "Brasil: o país do transfeminicídio", por Berenice Bento
- "'Representei a dor que sentimos', diz transexual 'crucificada' na Parada Gay"
Nenhum comentário:
Postar um comentário