Luana
Barbosa dos Reis Santos, de 34 anos, ao levar o filho de 14 anos à aula, em
Ribeirão Preto, parou para cumprimentar um amigo que estava num bar. Parada na
esquina da rua onde morava, no bairro Jardim Paiva II, localizado na periferia
da cidade, foi abordada e espancada por policiais.
De
repente, gritos e tiros tomaram conta do local na noite de 8 de abril, e uma
vizinha se apressou a avisar os familiares: “Corre que eles vão matar a
Luana”.
As
versões de como tudo começou variam. Segundo a própria Luana, em vídeo gravado
logo após as agressões, os policiais a mandaram abaixar a cabeça e colocar as
mãos para trás. Ao pedir que a revista fosse feita por uma policial mulher e
não ter seus direitos respeitados, Luana se recusou a deixar que o procedimento
continuasse e foi aí que as agressões começaram. O vídeo com o relato de Luana
contém cenas fortes:
Depois
de algemada, Luana recebeu um soco e um chute, além de apanhar repetidas vezes
com cassetetes e até mesmo com seu próprio capacete. De acordo com testemunhas,
policiais chutaram Luana para fazê-la abrir as pernas e ela caiu no
chão. Ao se levantar, deu um soco em um dos policiais e chutou o pé de
outro, o que levou as agressões a se intensificarem.
Após o espancamento, os PMs entraram na casa dos familiares,
alguns escoltando o filho de Luana e perguntando se ela usava ou traficava
drogas, se roubava, no que trabalhava. Revistaram o quarto dela, bem como
objetos de outros familiares.
Ela
teria sido levada à delegacia apenas de top e cueca, com os olhos inchados,
marcas pelo corpo, principalmente na região do abdômen. Segundo um familiar
entrevistado pela Ponte Jornalismo, ela vomitava muito e precisou de ajuda para
assinar os termos que ela mal conseguia ler, por conta do inchaço nos olhos e
porque cambaleava.
Somente
depois de prestar declaração, foi leva à Unidade de Emergência do Hospital das
Clínicas, onde permaneceu internada, mas faleceu 5 dias depois devido a uma
isquemia cerebral aguda causada por traumatismo crânio-encefálico.
Os
policiais relatam que a abordagem se deu porque Luana era suspeita de estar
pilotando uma moto roubada. Conforme consta no documento oficial da delegacia,
os PMs alegam terem sido desacatados e agredidos pela mulher, que estava
"descontrolada".
Emdeclaração ao G1, o tenente coronel da PM, Francisco Mango Neto, nega quetenha havido excessos na abordagem e completa: "Na realidade foi para
contê-la. Tanto que os policiais estavam muito mais lesionados, com cortes, e
ela não. Ela foi íntegra para a delegacia, lá foi solicitado exame de corpo de
delito, o qual ela deveria passar". Sobre a morte, disse que ainda seria
preciso uma apuração: "Vamos apurar se esse AVE ela teve por lesão ou se teve
por um outro motivo, como drogas, anabolizantes, porque ela era uma lutadora de
arte marcial, bem forte".
Os
suspeitos da agressão de Luana, Douglas Luiz de Paula, Fábio Donizeti
Pultz e André Donizeti Camilo, do 51º Batalhão da corporação, estão sendo
investigados. Procurados pela Ponte Jornalismo, não quiseram dar declarações
sobre o caso.
Trata-se
de uma situação recorrente no Brasil: pobre e negra, Luana havia deixado a
prisão em 2009, quando foi acusada de porte de arma e roubo. A irmã
Roseli, professora, conta que desde então ela havia dado continuidade aos
estudos e estava trabalhando como faxineira, garçonete e vendedora. Seu passado
e sua identidade fizeram com que Luana estivesse vulnerável à violência policial.
Indignada,
a irmã desabafou à Ponte Jornalismo: “Ela não pode refazer a vida? Ela não
tem mais direitos e nem é ser humano por ter passagem? Não tinha nenhuma
acusação contra ela. Estão tentando usar o fato de ela já ter tido passagem
para convencer a opinião publica de que foi merecido. Que bandido bom é bandido
morto. Por que não levaram ela presa pelo desacato? Por que fizeram tudo isso
com ela? Ela já estava rendida, não tinha necessidade disso".
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