Um comentário feito por um biólogo e que vem sendo
compartilhado no Facebook está me preocupando, pois mostra que, realmente, não
há esforço para compreender questões críticas que precisam ser colocadas em
pauta.
É absolutamente estapafúrdio que as pessoas realmente
acreditem que se quer ensinar, nas escolas, que “nascemos sem sexo”. Realmente,
não tem lógica nem mesmo alguém achar que se queira ensinar isso aos alunos.
Acontece que a cromossomia do indivíduo se expressa em suas
características biofisiológicas, mas não vai determinar muito do que nossa
sociedade acredita ser inerente ao homem e à mulher. Cromossomos não são
responsáveis por determinar que garotos gostam de azul e mulheres gostam de
rosa. Cromossomos não são responsáveis por determinar que garotos vão gostar de
carrinhos e super-heróis e que garotas vão gostar de bonecas Barbie e brincar
de “casinha”.
Parece mais fácil, aos adultos, ignorar o fato de que NÓS é que impomos o gênero à criança antes mesmo de ela nascer, criando expectativas com base apenas no fato de ela ter um pênis ou uma vagina (ou cromossomia XX e XY, vá lá - apesar de que até isso ignoramos durante o nascimento, apenas tomando conhecimento da configuração cromossômica quando a pessoa começa a apresentar "distúrbios" em seu corpo).
Diga-se de passagem, até hoje não foi comprovado que os
cromossomos exercem algum papel em determinar se o indivíduo é transgênero ou
não. Pode ser que exista alguma influência. Pode ser que não. O que se sabe,
porém, é que a transgeneridade tem fortes indícios biológicos, sendo a maior
probabilidade a de que ocorra por ação hormonal ainda durante o desenvolvimento
fetal.
Ora, se na escola ensinamos sobre outras cromossomias, como
XXY, XXX, XYY, sobre hormônios, sobre reprodução sexuada, é de se pensar na
possibilidade de colocar em pauta outras condições que vêm sendo estudadas e
que não podem ser negadas.
Ademais, se à escola cabe ensinar e exigir o respeito, é aí
que entra a discussão sobre as diferenças. E uma das diferenças que está em
pauta é aquela colocada entre os gêneros, que impõe a submissão feminina, por
exemplo. Não são os cromossomos que determinam que a mulher deva ser delicada,
obediente e submissa, mas a cultura!
O ensino não passa apenas pela Ciência, mas também pela
Sociologia e, acima de tudo, pelo respeito ao outro. Ensinar sobre as
diferenças e sobre a “outridade” é, sim, função da escola, e para tratar desse
tema ela precisa passar por questões de raça, gênero, classe sócio-econômica,
etnia e todos os elementos que, ao serem construídos como identidades, acabam
por passar também pela exclusão.
O homossexual também não é respeitado na escola, muito pelo contrário, é frequentemente condenado por apresentar um comportamento "diferente", fora das normas, o qual rapidamente associamos à sexualidade - algo que nós, adultos, ensinamos as crianças a fazerem antes mesmo de entrarem na escola.
O homossexual também não é respeitado na escola, muito pelo contrário, é frequentemente condenado por apresentar um comportamento "diferente", fora das normas, o qual rapidamente associamos à sexualidade - algo que nós, adultos, ensinamos as crianças a fazerem antes mesmo de entrarem na escola.
Não sei se vocês conseguem perceber a inconsistência na fala
do biólogo, que prega que a escola deva ensinar o respeito às diferenças sem coloca-las
em pauta a partir de exemplos reais – uma vez que a pessoa trans tem todo o
direito de frequentar a escola e ser respeitada, reconhecida e legitimada. E
prefiro não comentar sobre um biólogo que usa “homossexualismo”, termo que remete
a uma doença ou ideologia/fanatismo (por conta do sufixo “-ismo”) e que não é
mais usado pelo menos desde os anos 1990 (cientistas não devem se atualizar com
frequência?!).
A importância de se tratar das questões de gênero são, inclusive, bem exemplificadas por essa garotinha:
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O Ministério da Saúde oferece um curso à distância, gratuito, sobre Saúde da População LGBT. Decidi me inscrever e conferir, e recomendo. É bastante didático e claro, passando pelos assuntos mais básicos em relação a gênero, sexualidade e sexo, até a questão dos tratamentos de saúde propriamente ditos. Para instruções de como se inscrever, é só acessar aqui.
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