terça-feira, 30 de junho de 2015

Ideologia de gênero, a saga

Um comentário feito por um biólogo e que vem sendo compartilhado no Facebook está me preocupando, pois mostra que, realmente, não há esforço para compreender questões críticas que precisam ser colocadas em pauta.


É absolutamente estapafúrdio que as pessoas realmente acreditem que se quer ensinar, nas escolas, que “nascemos sem sexo”. Realmente, não tem lógica nem mesmo alguém achar que se queira ensinar isso aos alunos.

Acontece que a cromossomia do indivíduo se expressa em suas características biofisiológicas, mas não vai determinar muito do que nossa sociedade acredita ser inerente ao homem e à mulher. Cromossomos não são responsáveis por determinar que garotos gostam de azul e mulheres gostam de rosa. Cromossomos não são responsáveis por determinar que garotos vão gostar de carrinhos e super-heróis e que garotas vão gostar de bonecas Barbie e brincar de “casinha”.

Parece mais fácil, aos adultos, ignorar o fato de que NÓS é que impomos o gênero à criança antes mesmo de ela nascer, criando expectativas com base apenas no fato de ela ter um pênis ou uma vagina (ou cromossomia XX e XY, vá lá - apesar de que até isso ignoramos durante o nascimento, apenas tomando conhecimento da configuração cromossômica quando a pessoa começa a apresentar "distúrbios" em seu corpo).

Diga-se de passagem, até hoje não foi comprovado que os cromossomos exercem algum papel em determinar se o indivíduo é transgênero ou não. Pode ser que exista alguma influência. Pode ser que não. O que se sabe, porém, é que a transgeneridade tem fortes indícios biológicos, sendo a maior probabilidade a de que ocorra por ação hormonal ainda durante o desenvolvimento fetal.
Ora, se na escola ensinamos sobre outras cromossomias, como XXY, XXX, XYY, sobre hormônios, sobre reprodução sexuada, é de se pensar na possibilidade de colocar em pauta outras condições que vêm sendo estudadas e que não podem ser negadas.

Ademais, se à escola cabe ensinar e exigir o respeito, é aí que entra a discussão sobre as diferenças. E uma das diferenças que está em pauta é aquela colocada entre os gêneros, que impõe a submissão feminina, por exemplo. Não são os cromossomos que determinam que a mulher deva ser delicada, obediente e submissa, mas a cultura!

O ensino não passa apenas pela Ciência, mas também pela Sociologia e, acima de tudo, pelo respeito ao outro. Ensinar sobre as diferenças e sobre a “outridade” é, sim, função da escola, e para tratar desse tema ela precisa passar por questões de raça, gênero, classe sócio-econômica, etnia e todos os elementos que, ao serem construídos como identidades, acabam por passar também pela exclusão.

O homossexual também não é respeitado na escola, muito pelo contrário, é frequentemente condenado por apresentar um comportamento "diferente", fora das normas, o qual rapidamente associamos à sexualidade - algo que nós, adultos, ensinamos as crianças a fazerem antes mesmo de entrarem na escola. 

Não sei se vocês conseguem perceber a inconsistência na fala do biólogo, que prega que a escola deva ensinar o respeito às diferenças sem coloca-las em pauta a partir de exemplos reais – uma vez que a pessoa trans tem todo o direito de frequentar a escola e ser respeitada, reconhecida e legitimada. E prefiro não comentar sobre um biólogo que usa “homossexualismo”, termo que remete a uma doença ou ideologia/fanatismo (por conta do sufixo “-ismo”) e que não é mais usado pelo menos desde os anos 1990 (cientistas não devem se atualizar com frequência?!).

A importância de se tratar das questões de gênero são, inclusive, bem exemplificadas por essa garotinha:
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O Ministério da Saúde oferece um curso à distância, gratuito, sobre Saúde da População LGBT. Decidi me inscrever e conferir, e recomendo. É bastante didático e claro, passando pelos assuntos mais básicos em relação a gênero, sexualidade e sexo, até a questão dos tratamentos de saúde propriamente ditos. Para instruções de como se inscrever, é só acessar aqui.

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