Mais uma vez, Reinaldo Azevedo prova que não entendeu nada.
Usando de uma “argumentação” recheada de insultos e ofensas
pessoais, ele demonstra não estar disposto a diálogo algum, uma vez que
qualquer ideia que discorde da sua é “estupidez”.
Em sua coluna, no dia 24 de agosto, começou a série de
insultos disfarçadas de argumentação com uma charge de Laerte.
Nela, a
cartunista sugere como a recente manifestação pedindo o impeachment de Dilma
estava permeada por hipocrisias e falsas simetrias, na imagem de “cidadãos de
bem” que, entre selfies com a Polícia
Militar e discursos esdrúxulos, não raro pediam uma intervenção militar para “salvar
o país”.
Um panorama interessante dos protestos poder ser visto no vídeo abaixo:
Por alguma ironia do destino, membros dessa mesma PM são
suspeitos de ter cometido uma chacina em Osasco – e, creem alguns, fazerem
parte de mais um grupo de extermínio (sabemos, não é o primeiro na história da
PM). E o que está na tirinha é justamente a representação dessa ironia.
Diga-se de passagem, a ação da PM em Minas Gerais, em
protesto deflagrado apenas alguns dias antes das manifestações contra o
governo, foi bastante diferente: uma amostra de como a polícia trata cidadãos
de categorias “inferiores”.
Reinaldo Azevedo discorda desse ponto de vista que partilho
com Laerte, mas para demonstrar o quão contrário é a essa perspectiva, chama a
cartunista de “baranga”, “horrenda”, “detestável”, “farsante”, entre outras
coisas.
Traz para a discussão, ainda, a expressão de gênero de Laerte,
relacionando-a com sua visão política.
Quando, em 2012, a presença de Laerte no banheiro feminino
de um estabelecimento incomodou uma mulher, a velha problemática da não
diferenciação entre gênero e sexualidade e o determinismo biológico, como
sempre, foram usadas como justificativas para mostrar o “erro” da cartunista.
Nesse caso, Laerte questionou: “Como é que elas se
sentiriam com uma lésbica dentro do banheiro?”. Ora, a pertinência dessa
pergunta vem do fato de que sua expressão feminina não dita sua sexualidade e
que a preocupação com a presença de “mulheres não biológicas” no banheiro é normalmente
motivada por associações com a sexualidade.
Quando a pessoa acha errado que “um
homem vestido de mulher” frequente o banheiro feminino seu medo é fundado na
possibilidade desse “homem” tirar proveito das mulheres que estão no recinto.
No entanto, uma lésbica também teria a oportunidade de tirar proveito da
situação, tal como “um homem vestido de mulher” que sente atração por mulheres.
O que Reinaldo falha em perceber é que o
reconhecimento da identidade de gênero vem da necessidade de aceitação social
das pessoas trans, uma vez que a presença de um indivíduo transgênero tanto no
banheiro masculino como no feminino causaria desconforto e polêmica. O mínimo
que se pode fazer a esse respeito é reconhecer que a pessoa transgênero tem o
direito de usar o banheiro de acordo com sua expressão de gênero.
Se Reinaldo
diz, ironizando, que para Laerte, o fato de “querer” alguma coisa transforma
isso num direito, o contrário também pode ser dito: o fato de Reinaldo “não
querer” alguma coisa parece transformar isso, para ele, numa falta de direito
do outro.
Independente da crença de Reinaldo no
determinismo biológico que se utiliza unicamente dos genitais para identificar
o gênero de uma pessoa, não podemos nos esquecer de que a transgeneridade
existe e que sua crescente visibilidade demonstra a necessidade de reconhecimento
e validação social – e para os mais apegados à biologia, há uma série de
estudos que comprovam, biologicamente, a condição dessas pessoas.
Do alto de sua adequação à heteronormatividade
conservadora, Reinaldo comete as mesmas generalizações que criticou Laerte por
cometer – com a grande diferença de que essa generalização, usada para efeitos
humorísticos, leva à reflexão e não se gaba de ser detentora da verdade. Fosse uma generalização feita em charge para criticar pessoas com tendências esquerdistas que apoiam Dilma, certamente Reinaldo aplaudiria.
Sabiamente, Laerte usou do humor como resposta
às provocações do colunista conservador e obteve uma réplica um tanto quanto “sem
graça” – afinal, Reinaldo é desses que faz questão de dar a última palavra, nem
que seja para pedir o fim do debate.
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