terça-feira, 29 de dezembro de 2015

E quem é você para discutir comigo?

Meu amigo, Thiago Soares (a.k.a. T. Angel), trouxe a seu blog uma discussão que ainda me choca pelo nível de "apelação" do qual certas pessoas lançam mão quando tentamos questioná-las. Isso, na verdade, é uma rotina no universo das redes sociais - e, a bem da verdade, em qualquer situação na qual precisamos dialogar com um indivíduo que se considera autoridade.

Primeiramente, a postagem na qual se deu a discussão trata de um apontamento sobre termos preconceituosos e discriminatórios que não devem ser usados quando nos referimos a travestis. Sabemos, travestis são pessoas que têm, diariamente, seus direitos negados, ainda que, pela Constituição Federal, devam ser tratadas como todo e qualquer cidadão brasileiro.

Segundo a C.F., temos, logo em seu início:
TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Eu, você, as travestis, pessoas transexuais, homossexuais, negros, pobres, os fuzileiros navais, somos todos regidos pela mesma Constituição. Ninguém tem o direito de humilhar ninguém, e usar termos pejorativos para se referir a uma pessoa é uma violência simbólica.

Aceitar a IDENTIDADE de uma pessoa é dar a ela o mínimo de dignidade para que viva, em seu dia-a-dia, gozando de um respeito que ela nem mesmo deveria exigir; o respeito deveria ser concedido a ela automaticamente, como um direito de todo e qualquer cidadão, repito. Isso não tem relação alguma com a laicidade do Estado, diga-se de passagem, pois não estamos tratando de religião, nem mesmo de doutrina, mas de um fato. Há estudos médicos que comprovam fatores biológicos envolvidos na condição da pessoa trans.





E eis que, além de tornar claro seu desrespeito para com um grupo de cidadãs, o indivíduo lança mão de seu status social: "Eu sou cabo do corpo de fuzileiros navais e incluo nas minhas piadas a classe que eu quiser. [...] Quem é VC pra dizer o que se configura homofobia ou qualquer outro tipo de palavra que vcs têm inventado pra se vitimizarem [sic]? [...]". Posteriormente, ainda procura a ajuda de um advogado que não se manifesta na discussão, chamando-o de "dr."...

Está aqui um caso claro da demagogia em que o sujeito procura conduzir a discussão usando de uma ferramenta intimidatória. Dizem que é preciso que os respeitemos para que sejamos também respeitados, mas o desrespeito parte justamente deles.

Infelizmente, é esse tipo de discurso que com frequência inibe denúncias por discriminação e má conduta principalmente em se tratando de atos cometidos por oficiais.

Não são apenas os indivíduos que precisam mudar seu comportamento, aliás. As instituições também necessitam rever a abordagem de assuntos que envolvem o tratamento de grupos minoritários. É preciso, ainda, que tomemos consciência do seguinte: as instituições existem para SERVIR o povo e não o contrário.

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