domingo, 17 de janeiro de 2016

Vamos falar de sexualidade na infância?

Acho que está ficando cada vez mais complicado prever até que ponto vai a desonestidade das pessoas que, na tentativa de defender seus ideais, literalmente inventam notícias e informações que validariam seus pontos de vista.

Bolsonaro fez um vídeo recentemente tratando de um livro sobre sexualidade que, segundo o próprio, seria distribuído nas escolas públicas. A publicação, intitulada “Aparelho Sexual & Cia”, da editora Cia. das Letras, não tem relação alguma com o MEC e não existe proposta de distribuição do mesmo em escolas, conforme o próprio Ministério divulgou em nota oficial.

Trata-se de uma obra de autoria de Hélène Bruller e Zep, a primeira, quadrinista e ilustradora francesa, ex-mulher do segundo, um quadrinista suíço, ambos com obras que são sempre sucesso de vendas – incluindo a referida “Le Guide du zizi sexuel, que traz Titeuf, famoso personagem de Zep, com o intuito de explicar a sexualidade para PRÉ-ADOLESCENTES. Publicado na França em 2001, o livro já vendeu mais de 1,5 milhão de cópias em todo o mundo.




De maneira bastante clara e objetiva – e com humor –, a obra trata justamente daquilo que os pais têm dificuldade de abordar em conversas com os filhos em fase de desenvolvimento: a sexualidade. Não se trata de um estímulo à sexualidade precoce, mas de uma forma eficaz de sanar as dúvidas que as crianças possam ter sem que os pais se embaracem para responder a certas perguntas.

Na mesma linha de desonestidade intelectual, uma postagem andou sendo compartilhada no Facebook a respeito de outro livro que seria distribuído pelo MEC; a página fotografada e difundida trazia um desenho certamente voltado ao público infantil e a descrição do ato sexual.


Nesse caso, bastava ler o texto para notar que nem sequer se tratava de um livro brasileiro, uma vez que a acentuação das palavras é bastante diferente, além de trazer expressões específicas: “bebé”; “o pai mete-se (...)”; “pénis”; “mamã”. A obra é de autoria de um autor galego (o idioma, de fato, é bem próximo ao português), de nome Pepe Carreiro, e faz parte de uma série que envolve seus personagens infantis, os Bochechas, e faz enorme sucesso em Portugal. Novamente, o conteúdo do texto é a sexualidade, explicada de maneira direta, sem rodeios.

Além da questão concernente à falsidade das “notícias”, é interessante que pensemos sobre a sexualidade propriamente dita. As crianças não estão completamente alheias ao sexo, por mais novas que sejam. A partir do momento em que a criança percebe a si mesma e a seu corpo, ela já está em contato com a sexualidade e já no período entre os 2 e 6 anos de idade começará a fazer indagações sobre os motivos das coisas – o que pode incluir o porquê de os bebês nascerem ou de existirem os casais. Diga-se de passagem, foi comprovado cientificamente que é nessa idade que as crianças se dão conta de suas identidades de gênero.

No período que compreende os 6 e os 10 anos, começam as brincadeiras a nível “sensual” – exploratórias dos órgãos genitais e de áreas de prazer. De certa forma, esses interesses sinalizam a entrada na puberdade. Falar de sexo, propriamente dito, nessa idade, é uma maneira de esclarecer e de educar as crianças para que estejam cientes de seu próprio corpo e até mesmo para que possam compreender o que está por vir.

Educar a criança sobre a sexualidade é algo benéfico quando sua curiosidade natural não é ainda permeada por pensamentos maliciosos. É, inclusive, uma oportunidade adequada para alertarmos a respeito de comportamentos impróprios e até sobre indivíduos que a possam machucar.
O mundo contemporâneo é permeado pela sexualização: na música, na TV, nas propagandas e, principalmente, na internet. Afirmar que a criança de 8, 9 anos não tem ideia do que seja sexo e sexualidade é no mínimo hipócrita.

Além do mais, os primeiros contatos que uma criança tem com a sexualidade (e com o sexo) ocorrem dentro de casa, com a família e nos círculos sociais. Se existe o fenômeno da chamada sexualidade precoce, não se trata de algo causado pela educação.

Apenas o professor, que adentra à sala de aula, sabe o que é ouvir comentários de cunho sexual diversos da boca de crianças e não poder fazer nada a não ser repreender verbalmente, algo que, sabemos, não adianta muito - são comentários que os pais muitas vezes nem mesmo têm noção de que os filhos fazem. 

Na adolescência (e, às vezes, até antes), um número considerável de alunos já inicia sua vida sexual, também sem o conhecimento dos pais. A escola também não consegue impedir que esses jovens adentrem no mundo da sexualidade, mas não pode, de maneira alguma, fechar os olhos para esse fato e ignorá-lo. Daí a necessidade de falarmos de sexualidade enquanto educadores.

Aos anti-petistas de plantão, um aviso:
Jair Bolsonaro não é um político honesto – como a maioria deles –, mente deliberadamente, como se pode observar por esse vídeo sobre o livro que ele disse ser aprovado pelo MEC, e tem um histórico para o qual é preciso se chamar a atenção: ele JÁ FOI CITADO NA LAVA-JATO; suas ofensas a colegas parlamentares são recorrentes, o pior, feitas a nível pessoal; várias vezes foi acusado de quebrar o decoro parlamentar, tentando impedir sessões, principalmente as relativas à Comissão da Verdade; é acusado de receber R$50 mil na ocasião do esquema da chamada Lista de Furnas; foi citado por Joaquim Barbosa como participante do Mensalão; é alvo de dois inquéritos pelo STF, um relacionado a racismo e outro a crime contra a fauna.

Segue, abaixo, um vídeo esclarecedor publicado pela página Nova Escola sobre as declarações do deputado.


Checagem de informações
CHECAGEM DE INFORMAÇÕESO deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PP-RJ) publicou há alguns dias um vídeo sobre Educação.NOVA ESCOLA apurou as informações do vídeo. Veja agora os equívocos cometidos pelo deputado e os dados corretos.
Publicado por Nova Escola em Sexta, 15 de janeiro de 2016

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