Desde muito novos somos apresentados à ideia de que o
professor é o responsável por nos transmitir conhecimento e de que passaremos
grande parte da nossa vida sob suas tutelas. A convivência deve ser respeitosa
e amigável e, não raro, são as professoras e professores os primeiros adultos,
à parte dos familiares, a quem admiramos intensamente.
Na verdade, construímos com eles o mesmo tipo de relação
que temos com as demais pessoas que amamos e com quem convivemos por muito
tempo – às vezes conturbada, às vezes tranquila, às vezes com uma proximidade e
carinho evidentes, próprios dos grandes amigos.
Quando passamos a ter professores diferentes para matérias
específicas, a sensação de tutela se dissipa e não existe a mesma cumplicidade,
a não ser com aqueles com quem temos mais afinidades, seja pela matéria que
lecionam, seja pela personalidade que nos cativa. Ainda assim, não deixamos de
confiar nesses profissionais e até mesmo de recorrer a eles quando precisamos
de ajuda – inclusive no âmbito pessoal.
Concordo que para algumas pessoas essa descrição que acabo
de fazer vai soar romantizada. Mas a questão da confiança, em maior ou menor
grau, é importante para o relacionamento que compreende o aluno, o professor e
a instituição em que ambos se encontram, ou seja, a escola. Quando essa confiança
é quebrada, desmantela-se também a sensação de segurança que nos deve ser
garantida pela escola.
Assim, é assustador pensar que, dentro da instituição à
qual confiamos o bem-estar da criança, encontra-se um indivíduo capaz de tirar
proveito da situação para abusar de seus próprios alunos.
Recentemente, foi publicada a notícia de um professor
acusado de abusar sexualmente de garotas de 9 e 10 anos de idade, alunas do 5º
ano do fundamental, em escola municipal da cidade de Cajati, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo.
O docente teria
agido levando as meninas durante os intervalos a uma sala de aula vazia, onde pedia
beijos na boca e tocava os genitais das vítimas. Acredita-se que ele tenha
feito isso com pelo menos três alunas, mas os detalhes do caso ainda não podem
ser revelados por este estar em processo.
No Facebook, a
página “Meu Professor Abusador” publica, anonimamente, relatos de pessoas que
foram vítimas de seus próprios professores, tanto na escola como em cursinhos e
universidades. No ar desde 9 de fevereiro deste ano, a página tem quase 600
relatos publicados e já tem sido alvo de ameaças judiciais.
Ali, os casos são
apresentados anonimamente, sem que a vítima seja exposta – e também sem que o
suspeito tenha seu nome revelado, apesar de às vezes ser possível, para as
pessoas próximas à vítima e ao acusado, reconhecer de quem se trata.
A existência dessa
página é importante para mostrar como a figura do professor abusador é real e pode
se tratar de alguém que age da mesma forma há muito tempo sem ser denunciado.
Ao coletar os relatos e publicá-los, dá-se às vítimas oportunidade de
perceberem que não estão sozinhas e podem ser fonte de motivação para que
denunciem seus agressores.
A maior parte dos
casos acontece com garotas assediadas por professores, no entanto, cabe
ressaltar que professoras também podem cometer abuso sexual e que garotos
também podem ser vítimas. Infelizmente, no caso de meninos abordados por
professores ou professoras, é ainda mais difícil haver denúncia formal, por
vergonha das vítimas ou por acreditarem que um homem “não pode sofrer abuso”.
Por fim, em tempos
de redes sociais, cabe algumas dicas sobre como agir no caso de assédio (não
apenas de professor, mas de qualquer um que venha a abordar):
- Não publique imediatamente um texto com foto no Facebook denunciando a pessoa. Se isso for feito antes que seja registrado um boletim de ocorrência ou mesmo enquanto o caso estiver em julgamento, você pode sofrer acusação por parte do suspeito, por danos morais, calúnia ou difamação.
- Se você for menor de idade, converse com seus pais antes de procurar a direção da escola ou cursinho, para que vocês possam decidir juntos o que fazer.
- Converse com um advogado para que ele possa lhe orientar a respeito de como proceder.
- Se a pessoa que abusou de você fizer comentários nos seus perfis em redes sociais, ou enviar mensagens pessoais a você, dê “print” em tudo e salve no seu computador – de preferência, faça ainda um back up e guarde em local seguro – e não apague as postagens. Esses registros podem servir de prova em um processo.
Ainda sobre essa questão de ocorridos pela internet, o vídeo da advogada Gisele Truzzi é bem esclarecedor:
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