segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sobre Laércios e novinhas

No Big Brother Brasil, a repercussão do atrito entre os participantes Ana Paula e Laércio trouxe à tona um tema que precisa ser discutido com seriedade: o sexo entre pessoas mais velhas e adolescentes.

Primeiramente, gostaria de alertar para o fato de que não estou tratando, aqui, de pedofilia, tema do qual tratarei em outro texto. Resumidamente, o indivíduo pedófilo é aquele que sente atração sexual por crianças pré-púberes. No entanto, ter a criança como objeto de desejo não significa, necessariamente, agir para satisfazer esse desejo e cometer abuso. Muitos pedófilos não são criminosos e passam sua vida reprimindo e controlando essa atração repulsiva – na verdade, uma minoria dos pedófilos (no sentido de pessoas que realmente apresentam um transtorno) comete crimes.

Sendo assim, o tal Laércio não é um pedófilo. Ele pode apresentar problemas sérios de conduta, mas não é um pedófilo. Ele é, inclusive, suspeito de ter cometido um crime ao abusar sexualmente de uma menor de idade e os rumores sobre sua conduta são anteriores ao episódio do conflito com Ana Paula.
Além do mais, em sua página no Facebook, ele admite gostar de adolescentes e de fazer sexo com garotas bêbadas:




Quando assume que gosta de uma “novinha”, o indivíduo parece não ver algo de errado nessa preferência. E isso acontece porque no Brasil existe uma cultura de hipersexualização da “novinha” que vem se perpetuando inclusive por meio de letras de músicas populares, por exemplo, “Me Lambe”, dos Raimundos, “Novinha do Orkut”, de Claudinho e Buchecha, “Fica Caladinha”, do Bonde do Tigrão, entre muitas outras.

Justamente na música, a hipersexualização fica ainda mais evidente quando observamos letras cantadas por garotos como MC Pedrinho, que mal entrou na adolescência, mas ganha dinheiro com títulos como “Na Putaria”, “Geometria da Putaria”, “Planeta da Putaria”...

Em pesquisa, realizada pela página pornô PornHub, revelou-se que “novinha” é o termo mais buscado no Brasil. Esse resultado é uma indicação do imaginário brasileiro – e de muitos outros países, em que a palavra mais procurada era “teen”, ou seja, “adolescente”.


A atração pela ninfeta pode ser explicada pelo fato de se tratar de garotas ainda imaturas que podem facilmente se deixar convencer por homens mais velhos. Vale lembrar que o conceito de “ninfeta” passa, necessariamente, pela ideia de adolescente ou menina que incita o desejo sexual.

É impossível refletir sobre essa questão sem levar em conta a oposição à educação sexual nas escolas por parte de muitos pais e adultos formadores de opinião. Ao mesmo tempo em que se procura ignorar a sexualidade infantil, luta-se para “proteger” as crianças de uma realidade com a qual elas se deparam muito cedo.

A garota que o pai deseja proteger por meio da proibição de aulas sobre sexo e sexualidade no âmbito educacional é a mesma que, na rua, é assediada constantemente e tratada como um objeto de desejo (no pior sentido da palavra) independentemente de sua idade.

Vale lembrar as palavras de Carol Patronício em seu texto escrito na ocasião do Master Chef Junior, quando homens fizeram comentários a respeito de uma criança de 12 anos que participou do programa:

Enquanto meninas são encaminhadas a uma maturidade precoce, os meninos e homens são perdoados por todos seus erros porque são apenas garotos, independente da sua idade — vamos deixar claro também que isso acontece com mais força quando relacionado a homens brancos e de certa posição socioeconômica, aos homens e meninos negros ou pobres sobra apenas a desconfiança e teorias que apontam seus erros como biológicos.

Some a toda essa cultura a ideia de que todas as mulheres são vagabundas. Todas aquelas que não estão dentro do padrão esperado por aquele homem, já que não existe um consenso sobre como deveria ser o comportamento feminino de uma não-vadia. Quando a mulher é bonita, então, o problema é ainda maior: ela é tida como burra, é objetificada, estereotipada e tem tomada de si a possibilidade de dizer não a qualquer investida. O preço disso é ser tachada de metida. E não importa o que uma mulher faça: basta despertar o desejo em um homem e você se torna vagabunda.

O desejo é responsabilidade de quem o sente e não de quem o desperta. Quando um adulto sente desejo por uma criança é ele o culpado por ir contra uma norma social que protege a infância, a integridade e o corpo de uma incapaz (de acordo com a lei). Porém é muito simples inverter esse raciocínio ao dizer que a menina já tem em si a sexualidade de uma mulher, que ela usa roupas provocativas e que pede atenção masculina. Com essa ideia o homem torna-se a vítima de uma “destruidora de lares” que ainda brinca de boneca, apesar de ter sim sexualidade, ainda que muito diferente da de uma mulher adulta.

Enquanto garotos são, desde muito novos, estimulados a vocalizar e a agir em favor de seus “instintos”, inclusive sexuais, garotas são ensinadas a manter o recato. Logo, quando a menina se mostra mais expansiva, é considerada culpada de “aguçar” o desejo masculino – na visão da sociedade, aparentemente, não interessa se essa menina tem apenas 16 anos e seu comportamento é típico de uma adolescente. Raramente a responsabilidade do homem adulto, o qual deveria zelar pela integridade da adolescente e não a abordar com intenções sexuais, é colocada em pauta e questionada. 

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