segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Admiração

O que vem à sua cabeça ao admirar o trabalho de Adrian Lee? Ele fundou o coletivo NewSkool em 95, que hoje é chamado de Analog Tattoo Arts Kolectiv ("ATAK") e seu mais recente projeto foi a produção e lançamento do livro "Bloodwork: Sleeves", contendo fotos do que, em inglês, traduzimos literalmente como "mangas", não apenas as mangas que cobrem os braços, mas o corpo todo, ou seja, preenchimentos. Veja alguns feitos pelo próprio:










Arte pela arte

Lendo o blog do André Rodrigues (fiz um post sobre ele bem no começo da atividade do blog!), fiquei pensando em como é complicado falar do que diferencia um bom tatuador de um artista de verdade, porque as aparências são as mesmas, ambos trabalham em estúdios com seus quadros na parede, tem pastas e mais pastas de desenho, mas não é porque pinta um quadro que dá pra falar que um tatuador é um artista, ou melhor, que tem a essência de um artista. Ainda mais quando se tem a arte como profissão, espera-se que você leve a arte do desenho a um nível profissional - e como você se torna um profissional? Ora, como em qualquer outro caso: estudando!

Acho que é aí que está a maior dificuldade; eu, como artista, acredito que ainda não estou no nível de poder ganhar a vida com a minha arte, acredito que ainda tenho muito a aprender e a desenvolver. Mas também sei que não sou de todo ignorante; tenho conhecimento de técnicas, de teorias, além de saber como aplicá-las quando necessário - algo que faço em tela e papel. E a quantidade de vezes que eu pego em uma tela ou em um papel no qual pretendo desenvolver uma "arte final" é ínfima se comparada à quantidade de vezes que passo horas, até dias, rascunhando para conseguir chegar a algo que eu ache que valha a pena tentar fazer virar um quadro. Levei mais de um ano de curso de desenho para fazer algo que quisesse pendurar na parede - e, sinceramente, quando observo, acho que nada merecia ter sido pendurado.
Ok, eu sou exigente. Pra caralho. Mas não quero tentar vender algo que não satisfaz nem a mim mesma, autora da obra.

Agora imagine alguém que tenha um estabelecimento no qual você vai e paga uma grana considerável para ter um desenho dele no corpo para o resto da sua vida - vamos só ter em mente que não dá pra apagar uma tattoo por completo.

No estúdio, 90% do tempo, clientes veem o tatuador fazendo cópias de desenhos. Você chega e lá está o cara com um xerox e um carbono por baixo para transferir o desenho para a pele - desenho provavelmente tirado de uma revista, de um livro -, podendo mudar uma ou outra coisa direto naquele desenho. Quantos de vocês já viram um tatuador fazer um desenho para o cliente ali, na hora, etapa por etapa? - Tudo bem, é demorado, digamos que presenciar fazendo um rascunho, desenvolvendo uma ideia numa folha em branco.

Vocês já repararam se o tatuador do estúdio em que você se tatua tem livros de arte variados, apostilas, materiais de referência - ou ao menos se comenta deles - ou só tem aquelas revistas de tatuagem compradas na banca?

Você se sentiria mais seguro entregando sua pele a um indivíduo que "desenha desde criança" ou a um que "ainda está fazendo um curso de desenho, mas faz questão de estudar todos os dias"?

Se você parar para analisar, vai ver o quão inferior é o trabalho do primeiro em relação ao segundo se aquele que "curte desenhar desde criancinha" continua desenhando, como fazia, até hoje. É o velho problema da acomodação; a pessoa chegar num nível e achar que "está bom assim" e que "já sabe desenhar", "só precisa melhorar".  Perceber este tipo de atitude em alguém que poderia até ter potencial caso se interessasse em estudar desenho é o que me deixa decepcionada em certas ocasiões.

Nem sei se me fiz entender, mas há muito que ando querendo expressar minha decepção e indignação quase generalizada.