segunda-feira, 1 de junho de 2020

Pravy Sektor, o "setor da direita" ucraniana


A bandeira do Pravy Sektor, partido de extrema-direita ucraniano, figurou mais uma vez nas manifestações pró-Bolsonaro na tarde de ontem, 30 de maio, em um trio elétrico e, depois, nas costas de um indivíduo que andou pela Avenida Paulista. O indivíduo que estava com a referida bandeira entrou em confronto com um participante dos atos antifascistas. A mesma bandeira já havia aparecido nas manifestações do dia 24 de maio.




Em entrevista à emissora CNN Brasil, o embaixador da Ucrânia, Rostyslav Tronenko, alegou que a bandeira não tinha ligação com o partido Pravy Sektor, alegando se tratar de fake news. Havia, nos protestos, uma bandeira azul e amarela representando as cores da Ucrânia, mas aquela trazendo as cores vermelho preto está, sim, intimamente ligada à extrema-direita ultranacionalista no país e que, no passado, a polícia brasileira chegou a investigar uma associação entre neonazistas brasileiros e guerrilheiros ucranianos.

Ucrânia e a extrema-direita

O chamado Pravy Sektor (ou "Setor Direito") surgiu como uma aliança entre grupos ultranacionalistas em novembro de 2013 e alguns de seus membros participaram dos protestos em Kiev contra o presidente Viktor Yanukovych, que havia sido eleito em 2010. A onda de protestos ficou conhecida como "Euromaidan".

O governo de Yanukovych era pró-Rússia, com alguns de seus membros sendo suspeitos de corrupção, e causou indignação entre parte da população ucraniana por decidir não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia. A recusa do presidente em assinar o acordo se deu após ameaça, por parte do governo russo, de imposição de sanções à Ucrânia.

Isso levou à intensificação de uma polarização que remonta ao fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

De forma simplificada, a disputa na Ucrânia se deu entre aqueles que eram favoráveis à Rússia (concentrados na região leste do país, onde o idioma majoritário ainda é o russo) e aqueles que defendiam o estreitamento de laços com a União Europeia (em sua maioria, de Kiev e da região oeste).

Os partidos que se opunham ao governo de Yanukovych tomaram parte nos protestos em Kiev. Entre eles, destacaram-se o movimento Udar, liderado por Vitor Klitschko; o partido Svoboda, comandado por Oleh Tyahnybok; e o partido Bratstvo. Estes dois últimos são de extrema-direita.


Pravy Sektor

Apesar de sua presença nos protestos, o Pravy Sektor apenas se formalizou como partido em 22 de março de 2014. Eles ganharam visibilidade após confrontos violentos com a polícia em Kiev em 19 de janeiro. Dmytro Yarosh, à época líder da organização ao lado de Andriy Tarasenko, comandou os atos.

Yarosh se diz admirador e seguidor de Stepan Bandera, um líder nacionalista que lutou, nas décadas de 1930 e 40, contra a Polônia e a dominação soviética sendo, durante a Segunda Guerra Mundial, aliado nazista. A ideologia do Pravy Sektor se baseia no ultranacionalismo e a Rússia os acusa de envolvimento em ataques contra os separatistas pró-Moscou no leste ucraniano.

Em 2014, Dmytro Yarosh foi eleito para uma cadeira no parlamento ucraniano pelo partido Setor Direito. Ele está associado ao comando de nacionalistas e paramilitares que defendem a tradição do Exército Insurgente Ucraniano (que, na Segunda Guerra, lutou em aliança com nazistas) e que lutam ativamente na guerra civil separatista de Donbass, no leste da Ucrânia, ao lado do partido Svoboda e do Batalhão de Azov (este último se tornou um regimento da guarda ucraniana e é acusado de diversos crimes de guerra na região, incluindo execuções e desaparecimentos, estupros e perseguição a minorias sociais).

O Pravy Sektor se diz contrário à dominação russa e ao imperialismo do Ocidente, além de defender políticas armamentistas.