segunda-feira, 9 de maio de 2016

UFLA e a discriminação

[Nota prévia: Vini, obrigada por ser quem é!]

No dia 5 de maio, quinta-feira, Pablo Gabriel Galiza Barbosa, estudante do curso de Química da UFLA (Universidade Federal de Lavras) vestiu-se com uma camiseta customizada e uma saia preta longa para ir à faculdade. Lá, foi interpelado pelo segurança, que afirmou que a maneira como Pablo estava vestido era um trote e que, devido às políticas da instituição ele não poderia assistir às aulas usando aquelas roupas.

Mesmo depois de Pablo ter afirmado, com todas as letras, que aquela era a forma como se vestia normalmente, e que não havia relação alguma com brincadeiras aplicadas por universitários, o segurança se recusou a permitir que ele permanecesse na faculdade, chegando ao ponto de acionar a Polícia Militar lotada no campus para que abordasse o aluno.

Ainda que Pablo insistisse no fato de que havia escolhido sua roupa e que aquela era uma opção de seu cotidiano, a PM lhe fez ler o regimento interno, em que constavam as políticas da universidade a respeito do trote.

Claramente, nem o segurança nem a PM estavam dispostos a ouvir o que o universitário tinha a dizer. Pablo foi encaminhado para conversar com o pró-reitor, que não estava presente e, porque no momento, compreensivelmente, encontrava-se nervoso, foi levado à sala da psicóloga da universidade. No entanto, o segurança que interpelara o aluno adentrou com ele na sala para dar sua versão dos fatos. Pela terceira vez, Pablo foi silenciado.

Os atos do segurança revelam como a questão da discriminação não é levada a sério quando ocorre pontualmente e de maneira velada. O critério utilizado para vetar a entrada do aluno é baseado em princípios preconceituosos, como é possível notar ainda na fala do reitor, José Roberto Scolforo, em entrevista para a EPTV. Segundo afirmou, "A pessoa veio fora de um padrão considerado por ele razoável observando as normas e, portanto, ele de uma forma extremamente cortês considerou que aquilo ali não era uma vestimenta adequada".

Podemos inferir que um padrão considerado razoável pelo segurança passa pela lógica que divide roupas entre “femininas” e “masculinas”, mas não é esse o maior problema na atitude do funcionário. A tentativa de imposição de sua percepção, segundo alunos da faculdade que conhecem Pablo e acompanharam o desenrolar da situação, foi de intimidação e silenciamento do garoto.

Se o trabalho do segurança é o de cumprir ordens da instituição e obedecer às regras, isso não pode ser feito com violação da dignidade de qualquer aluno. Ademais, ao acionar a Polícia Militar, o segurança excedeu sua função, pois somente a reitoria é autorizada a isso.

A indignação de Pablo e das demais pessoas que protestaram nas dependências da universidade é, antes, causada pelo cerceamento da expressão de identidades dentro de um local em que a liberdade deveria prevalecer.


Um grupo de 5 estudantes conversou com o reitor após o ocorrido, estabelecendo alguns acordos, conforme relatado pelo Vinícius Lucas de Carvalho, estudante do mestrado da UFLA e militante pelos direitos LGBTTTQIA+. Reproduzo, aqui, suas próprias palavras, após segunda matéria (tendenciosa) veiculada na EPTV, filial da Rede Globo de Lavras: