sábado, 13 de junho de 2015

Manifesto minoritário


Desde pequenos somos forçados a notar quando somos diferentes. Na escola, qualquer que seja nossa diferença ela irá se sobressair. É, então, na escola que nos ensinam que a diferença é indesejável – e, apontando para ela como uma falha, como uma inconveniência, a escola nos pressiona a nos tornar invisíveis e a nos misturar entre os “iguais”.

Nesse primeiro contato com a sociedade somos colocados diante daquilo que enfrentaremos por toda uma vida e, enquanto “diferentes”, tomamos consciência de que provocamos o incômodo. A garota que não gosta de rosa, o garoto que não se interessa por futebol, a negra que não quer alisar o cabelo, a criança que não quer estar na moda, a criança que não pode estar na moda por conta de suas condições econômicas desfavorecidas, mas nem por isso se envergonha... qualquer um que não esteja disposto a se conformar é um incômodo porque questiona a validade das regras. Qualquer um que se recuse a ser “só mais um”, que se recuse a seguir os padrões impostos à sociedade, provoca ansiedade, porque questiona as formas de poder que se disfarçam de regras e padrões.

É crucial, para o conservador, que a mulher permaneça submissa, que o homossexual não tenha os mesmos direitos civis, que o transexual não tenha sua identidade de gênero reconhecida. Afinal, conferir visibilidade e poder de fala a essas pessoas é permitir que elas questionem justamente os princípios que alçaram ao poder os opressores.

Mulheres, negros, pobres, deficientes físicos ou mentais, homossexuais, bissexuais, transexuais, transgêneros sabem que são diferentes; sabem que são o “outro” que não é dominante. Em algum momento de sua vida experimentarão alguma forma de discriminação, e normalmente esse momento chega quando entramos na escola.

Na escola, a importância de seguir as normas está em se adequar e aprender a não questionar, a ficar calado. Afinal, é menos trabalhoso e (bem) mais conveniente para os que administram um ambiente ou uma instituição que não se fomentem os discursos questionadores.

O aluno que insiste em perguntar “Por quê?” é um aluno armado com um pensamento crítico, e é importante que o professor demonstre ao estudante como manusear essa arma. Como professores, devemos deixar claro para o jovem que a neutralidade é um mito e que não existem verdades absolutas; e que se não somos capazes de escapar das ideologias, podemos, ao menos, questioná-las.

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Em São João del Rei, estamos enfrentando a pressão de um vereador conservador para se reformular o plano decenal de ensino; muitas outras cidades estão sofrendo com o mesmo problema. Enquanto educadores e representantes de minorias não podemos nos calar!