quinta-feira, 14 de abril de 2016

A transfobia continua e a culpa é de todos


Na segunda-feira eu publiquei uma notícia sobre como a transfobia não parte só das pessoas que agridem fisicamente um indivíduo trans, mas também daquelas que fazem comentários preconceituosos mascarados como "opiniões".

Agora, a YouTuber Mandy Candy expôs mais exemplos - ainda piores - de como o ódio deliberado a pessoas transgênero é propagado pela rede. E se o teor dos comentários já nos incomoda por si só, imagine como é para alguém que lê (ou ouve) esse tipo de coisa diariamente...

Em um vídeo extremamente corajoso, ela revelou sobre sua cirurgia de redesignação e explicou, de forma bastante clara, sua necessidade de passar pelo procedimento e como se sentia antes dele.
Não faltaram comentários afirmando que ela havia se mutilado, que é um absurdo o SUS oferecer essa cirurgia, que ela precisa de tratamento psicológico porque é doente...

A questão é que as pessoas não precisam ser favoráveis à transgeneridade ou até aceitar conviver com alguém trans intimamente. Mas compreender o sofrimento desses indivíduos e procurar exercer alguma tolerância por saber que se trata de uma condição sobre a qual eles/as não têm controle é o mínimo que se espera de um indivíduo com qualquer resquício de bom senso.

É certo que as ciências e a medicina ainda não descobriram todos os fatores envolvidos na transgeneridade (na verdade, não descobriram nem mesmo os fatores envolvidos na identidade de maneira geral), mas há um número considerável de pesquisas que oferecem uma prova da existência dessa condição a nível biológico. Sendo assim, não se trata de "acreditar" ou não que uma pessoa se identifique como alguém do outro gênero, pois a existência dessa pessoa já foi comprovada e legitimada cientificamente - e numa sociedade em que as ciências são vistas como discursos inquestionáveis, isso é muito importante.

Para que alguém chegue a passar pela cirurgia de redesignação genital, é certo que já tentaram tratamentos psicológicos, psiquiátricos (pelo menos aquelas pessoas que têm condição para tanto) e passaram muito tempo se perguntando se a decisão pelo procedimento era o certo a se fazer. Por ser uma cirurgia grande, complexa, a recuperação é longa e requer muito cuidado, um dos muitos motivos que levam pessoas trans a não desejar passar pela redesignação.

Vale lembrar também que não existem apenas dois tipos de genitais - esses dois tipos, o pênis e a vagina, são o que a ciência usa como modelo. Há casos múltiplos de genitais intersexo e o motivo de afirmarmos que as classificações "homem" e "mulher" não pode ser restrita à aparência do órgão sexual externo tem relação com essa impossibilidade de se apontar, em certos casos, se a pessoa é de fato "homem" ou "mulher". Isso sem falar em toda a simbologia social atrelada aos "sexos" sem qualquer base na biologia.

Sobre a dor e o sofrimento pelo qual passam essas pessoas que não podem se enxergar em seu próprio corpo, certamente a Mandy pode falar melhor que eu: